Flashback: Preocupações Alimentares

Quando uma mulher descobre que está grávida, fica logo com mil e uma preocupações acerca de tudo e mais alguma coisa (ou pelo menos assim devia ser). O que é que pode e não pode fazer nesta nova fase da sua vida. E se há coisas que são mais óbvias e mais faladas (não beber álcool, fumar, consumir drogas...) outras já dão mais dores de cabeça, como o que se pode ou não comer.
É que parecendo que não, não é um assunto consensual. Os próprios médicos e nutricionistas têm opiniões que às vezes são divergentes e se vamos comparar essas informações mais oficiais com as que lemos na internet ou noutros meios de comunicação social, ficamos com um nó na cabeça. E portanto, cá estou eu a escrever sobre isto para ser mais um artigo de Blog sobre um tema já muito debatido e que não vai dar mais nenhuma informação útil, apenas relatar a minha experiência.
Vamos começar com a maior fonte de preocupações acerca da alimentação, a toxoplasmose. A toxoplasmose é uma doença infecciosa transmitida por um protozoário, o Toxoplasma gondii. Normalmente é uma infecção assintomática, ou então pode dar sintomas que se podem confundir com uma gripe: febre, dor de cabeça, dores musculares, fadiga. O nosso sistema imunitário consegue combater bem o parasita e a doença nem se chega a desenvolver, razão pela qual muitas pessoas já tiveram toxoplasmose e não têm ideia.
O problema é a gravidez. É que se apanharmos a doença durante a gravidez, pode provocar mal formações no bebé ou até mesmo levar ao aborto. Por isso é que é tão importante fazer as análises para sabermos que somos imunes ou não ao toxoplasma (pois quando já tivemos toxoplasmose, o nosso corpo cria anticorpos que evitam que tenhamos a doença daí para a frente) e se não formos, saber que temos de ter cuidados extra para não apanharmos a doença neste momento crítico. Como se sabe que as grandes fontes de transmissão são as fezes dos gatos, as carnes cruas ou mal passadas, os legumes e frutas mal lavados, aqui entra a parte dos cuidados alimentares que temos de ter (isso, e o cuidado ao limpar a caixa de areia do Tareco).
E aqui começa a luta. Há médicos que dizem que basta lavar muito bem em água corrente; outros dizem que precisamos de desinfectar ou com lixivia ou com Amukina. Ainda há alguns que dizem que vinagre basta (mas parece que vinagre realmente não mata o Toxoplasma, portanto quem não quiser desinfectar acho que mais vale ir só pela água corrente do que andar a preocupar-se com o vinagre). E isto é em casa.
Depois há toda a problemática do comer fora de casa. "E se aquela fruta não foi bem lavada?" ou "pedi este prato, mas nem me lembrei que vinham legumes crus no meio". Qual é a nossa tendência? Deixar de comer saladas e fruta fora de casa. E em casa às vezes também, não vá o diabo tecê-las. E depois, o que vemos nas recomendações de alimentação para grávidas? Aumentar o consumo de legumes e vegetais! Pois é, ninguém disse que gravidez seria algo fácil, mas nunca ninguém pensou que daria assim tantas dores de cabeça com assuntos destes.
 
O que é que eu fiz? Aumentei o consumo de legumes cozinhados. Sopas, pedir para trocar o acompanhamento de salada por feijão-verde ou brócolos. E de vez em quando lá ia alguma salada, sempre com aquele pensamento do "ai que já me estou a arriscar...".
Uma chamada de atenção a quem seja novato nestas coisas e esteja aqui à procura de conselhos: informem-se bem sobre o que é a toxoplasmose e as maneiras de transmissão, para não serem enganados com alguma informação (muitas vezes bem intencionada) mas que não é verdadeira. E também não é preciso entrar em pânico com isto, não é um bicho-de-sete-cabeças, é apenas um cuidado extra. Afinal de contas, a maioria de nós não é imune e já anda há 20, 30, 40 anos a comer normalmente, ou seja, nunca teve contacto com o toxoplasma.
Por exemplo, perante a minha recusa de comer uma salada, disseram-me "ah, mas isto é ali do quintal, é muito saudável, não tem químicos!". Pois minha senhora, é exactamente esse o problema! Se tivesse químicos, nomeadamente a lixivia, eu sentia-me segura, pois estava desinfectada. Agora assim, uma alface cultivada num sítio em que se bem calhava tinha um gatinho infectado a fazer lá o seu servicinho, infectando aquela terra, terra essa que depois vinha agarrada à dita alface que podia ou não estar bem lavada... pois, ESSE é que é o problema.
Ou também conheci quem desinfectasse tudo, até as laranjas. O toxoplasma como já foi dito, encontra-se maioritariamente na terra. Portanto legumes e fruta que estão em contacto com a terra, têm maior probabilidade de terem o toxoplasma, (alfaces, morangos, cenouras...). Mesmo assim, ele encontra-se à superfície. Se os descascarmos, reduz imenso o risco. Agora, claro que convém lavarmos bem à mesma, antes e depois de descascar... mas se calhar desinfectar a casca de uma laranja (que não vamos comer a casca e é um fruto que cresce numa árvore, não está em contacto com a terra) já é um pouco demais.
Mas pronto, cada uma de nós faz aquilo que se sente mais à vontade de fazer, e é verdade que às vezes mais vale pecar por excesso do que por falta.
Outro assunto que dá água pelas barbas é o peixe. Recomenda-se o aumento do consumo de peixe, principalmente peixes gordos, por causa dos ómegas. Mas ao mesmo tempo pedem uma redução em alguns tipos de peixe, pois podem conter mercúrio. Até aqui tudo bem, faz sentido. O pior é quando vamos ver as listas e o mesmo peixe faz parte da lista dos aconselhados e da lista dos peixes a evitar. Aqui o meu conselho é, perguntem ao médico se há algo que ele quer mesmo que vocês evitem, e de resto, usem o bom senso.
Por falar em peixe, provavelmente vão-vos dizer logo também para não comer marisco. O pior é quando dizem que não se pode comer marisco por causa toxoplasmose. Pois, não é nada disso. Deve-se ter cuidado sim mas é por causa das intoxicações alimentares. Portanto é mesmo ter cuidado em comer em sítios de confiança, ou se formos nós a preparar, sabermos como preparar bem.
E depois há todo aquele aconselhamento para comer saudável e evitar os açúcares e hidratos de carbono. Sim, quem tem diabetes gestacional tem de ter cuidados com este tipo de alimentos. Cuidados, não significa abolir de todo. E depois nós não somos todos iguais e há pessoas que passam mal se não comerem açúcares (tipo eu), podem fazer hipoglicémias, que são bem mais perigosas do que comer um pão ou um docinho de vez em quando. Aqui, mais uma vez, impera o bom senso, pensar que não somos todas iguais e que a palavra-chave é “moderação”.
Algumas páginas alertam também para o perigo do leite e do queijo, embora as recomendações sejam de aumentarmos a ingestão de cálcio. Aqui é só ter atenção que não podemos comer nem beber produtos não pasteurizados nem aqueles queijos moles (ou aqueles esquisitos com fungos lá dentro). De resto, se gostam, comam e bebam, só faz bem a nós e ao bebé!
Por ultimo, e por muita pena minha, os enchidos são tidos como produto a evitar, pois a carne não é cozinhada, é fumada, e portanto se a carne estiver contaminada pelo toxoplasma, ele não é morto. No entanto alguns médicos dizem que se pode comer se tiver sido congelado previamente, outros dizem que não (também devido à quantidade de gordura e sal que eles contêm). Mais uma vez, é ver o que o vosso médico acha e contrabalançar isso com a vossa vontade de comer enchidos. Ah, e isto vale também para o sushi: há médicos que não admitem, outros dizem que desde que previamente congelado e bem preparado não tem problema nenhum.
E pronto, acho que toquei nos produtos mais controversos (sim, porque ninguém tem dúvidas que comer carne crua é mau, por isso nem falei nisso). Comentem se me esqueci de algum ou se têm uma opinião diferente destas aqui apresentadas.
See ya

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