Baixa e Peripécias na Consulta

Quando anunciamos que estamos grávidas ou quando as pessoas descobrem pois a barriga já não dá para esconder mais, há uma série de questões que nos são colocadas: Quando nasce/estás de quantos meses? É menino ou menina? Como se vai chamar? É o primeiro?
 
No entanto para uma trabalhadora, principalmente alguém que passa muitas horas de pé num vai-e-vem acelerado, outra questão me colocaram muitas vezes: Quando vais de baixa?
 
Não estamos a falar de uma baixa por doença ou porque a gravidez precisa de ser mais vigiada que o normal, como quando acontece por haver descolamento da placenta, sangramentos, risco de aborto, restrição de crescimento ou mesmo diabetes gestacional. Estou mesmo a falar na baixa "para ir descansar". E a quantidade de vezes que me puseram essa questão levou-me a pensar, então mas o que foi feito ao "gravidez não é doença"? Já ninguém espera que uma grávida consiga passar os 9 meses bem, com a sua actividade normal?
 
Dito isto, também não sou uma masoquista, e contava pelo menos ir para casa um mês antes da data prevista para o parto, para passar o Natal e Passagem de Ano descansada e com a família. Pelo menos até a médica me começar a meter medo a dizer coisas como "vamos ter de o aguentar no forninho até ao Natal". O quê?!!! O que foi feito das 40 semanas? Já estão a contar com as 37 semanas porquê? se assim fosse, nem um mês ficava em casa e isso obrigou-me a repensar o meu plano de acção. Talvez ficar mês e meio, ficando de baixa no inicio de Dezembro, não fosse má ideia.
 
A favor da baixa estava a médica e pessoas próximas. A médica dizia que sim, gravidez não era doença, mas é um estado em que o organismo fica sobrecarregado e às vezes temos de equiparar a doença. E com meu emprego não dava propriamente para ter uma vida descansada, pois nunca sabia quando começava a correria. Ela já falava há algum tempo em que tinha de pensar que teria de abrandar. Por outro lado, amigas já com filhos relatavam o quão importante era ficar em casa nos últimos dois meses, não só para recarregar baterias ("vais precisar") como para organizar tudo o que seria preciso para a chegada do bebé. Além de que o stress poderia dar origem a parto prematuro.
 
Contra (vá, "contra") a baixa, estava eu e a família próxima. Não sou workaholic, mas sempre fui muito a favor do trabalho. Ir para casa "só porque sim" fazia-nos confusão. E ainda por cima a receber uma miséria. Então e antigamente que as pessoas trabalhavam até entrarem em trabalho de parto? Teremos nós, mulheres actuais, perdido essa fibra? Bem, a verdade é que realmente trabalhavam até entrarem em trabalho de parto, mas quantos desses partos não seriam prematuros. E nem vamos falar da mortalidade neonatal.
 
E com estas dúvidas e pensamentos fui continuando a trabalhar ao longo destes meses. Fez confusão a algumas pessoas, principalmente pois tenho duas amigas também grávidas (uma com menos 2 meses que eu e outra com menos 4 meses) que entraram de baixa respectivamente às 14 e às 7 semanas. E eu ia somando semanas e continuava a trabalhar. No duro. Vá, mais ou menos, que eu também não sou maluca de todo e aproveitava sempre que podia para descansar, seja a trabalhar sentada quando possível, seja a fazer tarefas que não implicavam correria. Nem sempre conseguia claro, mas tentava sempre respirar fundo e atender o público de forma normal e tentar não stressar quando via muitas pessoas em espera e estava sozinha (não é fácil não). E comecei a chegar a casa cada vez mais cansada e com as pernas inchadas ou com as contracções que falei anteriormente.
 
Depois do episódio das contracções, em que a médica queria me pôr de baixa para fazer uma experiência, e que eu recusei, comecei a ver que realmente iria beneficiar de estar em casa. Afinal de contas, excesso de contracções pode levar ao rebentamento da bolsa e isso é uma coisa que queria de todo evitar. E assim, o meu plano passou de ficar em casa a partir de Dezembro, para ir de baixa assim que tivesse a próxima consulta (que calhava dia 20 de Novembro). Comecei a avisar toda a gente no trabalho da possibilidade de ir de baixa nesse dia, andei a organizar turnos, comecei a sonhar com o facto de ir para casa e finalmente ter tempo para curtir a gravidez. Ainda por cima, como tinha começado o curso de preparação de parto, já andava a faltar algumas horas por semana (e a interferir com as folgas dos colegas) e mais valia que eles não contassem mesmo comigo. Na véspera da consulta até estava nervosa. E o meu namorado só gozava "se amanhã a médica não te dá baixa, eu riu-me tanto! Fico cheio de pena de ti, mas vou-me rir tanto..."
 
Chega a segunda feira, consulta ás 10h20, estou lá um pouco antes das 10h. Já nem precisava de ir trabalhar nesse dia, bastava passar por lá para fechar os valores da semana anterior, organizar 2 ou 3 coisas e casa, aí ia eu. Vou ao guichet "É consulta de saúde materna não é? Vamos a ver o que a médica diz destas". Desculpe?? Que se passa?? " Sabe, estamos sem sistema, a médica tem estado a cancelar algumas consultas, vamos a ver o que ela diz desta". Enquanto a administrativa telefonava, eu só pensava que os meus receios se concretizavam: eu ousei sonhar com tempo para mim, e portanto não o iria conseguir.
 
A administrativa lá falou com a médica e frisou que era uma grávida de Janeiro, ou seja, não se podia adiar muito a consulta. Remarcaram para esse mesmo dia, mas da parte da tarde, podia ser que houvesse sistema nessa altura. Lá iria eu trabalhar pelo menos essa manhã. Perguntei se devia passar logo pela enfermeira, acabando de ali estar e de ser a semana de levar a vacina da tosse convulsa. A administrativa concordou, era melhor fazer isso logo sim. Era só subir ao 2º andar e falar com a enfermeira.
 
Lá fui eu. Porta fechada, esperei um pouco. E esperei mais um pouco. Entretanto vi outro enfermeiro (o da vacinação infantil) andar de um lado para o outro e decidi confirmar com ele se a enfermeira estava lá. Não estava. Uma das enfermeiras (a que me seguia) estava de férias e a outra estava no andar debaixo na parte dos pensos e tratamentos pois a colega estava de atestado. Perguntei-lhe como devia fazer para levar a vacina, e ele disse para ir mesmo para a fila da vacinação que eles lá administravam logo. E foi o que eu fiz: não tinha consulta com a enfermeira, se calhar também não tinha com a médica, mas ao menos despachava logo aquela parte. E assim, 20 min depois (e após ter assistido a uma discussão entre dois adultos a ver quem tinha chegado primeiro) saí do centro de saúde vacinada e com a espectativa de ter consulta na parte da tarde.
 
Chegar ao trabalho, explicar a toda a gente que afinal ainda não estava de baixa (e nem tinha a certeza de ficar essa tarde) e trabalhar um pouquinho. Almoçar à pressa e às 14h lá estava de novo no centro de saúde. Dirijo-me ao guichet e lá estava a médica com a administrativa a ver a listagem das consultas e a ver quem iriam telefonar para desmarcar e passar para outro dia. Pronto, pensei eu, não há sistema ainda, vão-me marcar outra consulta sei lá para quando.
 
Felizmente enganei-me: tive consulta na mesma (com a médica a fazer cábulas de tudo o que teria de passar para o computador quando ele "reanimasse") e ela passou-me a baixa sim. Mas pronto, só a contar a partir do dia seguinte, já que nesse dia já tinha ido trabalhar. Era agora que eu iria ter tempo para mim, me podia dedicar aos bordados, a escrever nos blogs, organizar as fotografias, fazer um puzzle que tenho desde o verão, ler aqueles livros que estou para ler há meses, ver as séries que estou a deixar para trás, ir ao ginásio fazer BodyBalance e Pilates. Pois, estou de baixa há praticamente uma semana, e sim, fui uma vês ao ginásio, bordei babetes sim, de resto, pois estou agora a escrever no blog. Mas já comprei os móveis que faltavam e ontem andei a montar o quarto da cria (ou o cantinho do quarto), portanto, isso mais as aulas de preparação de parto, acho que foi uma semana produtiva.
 
A minha ideia é mesmo tentar escrever com mais regularidade, mas o que será será.
 
E vocês, que planos têm relativamente a tirar um tempo antes do bebé nascer? Não acham que as grávidas deviam ter redução de horário do final? (Poupando-se assim muitas baixas desnecessárias?).
 
See ya.


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